31.3.10

MERCADO GERAL DO GADO



Entrecampos 1952

É inaugurado o Mercado Geral do Gado. Foi construído por uma sociedade de particulares (Pereira de Lima e António Vitor Reis e Sousa) em acordo com a CML. O projecto é do arquitecto parente da Silva, sofrendo modificações da autoria de Machado Faria e Melo. Ainda hoje se podem ver algumas das suas construções no recinto da actual Feira Popular de Lisboa.













http://jornalpraceta.no.sapo.pt/fac1888.htm


Entre Campos 1952 Lisboa - Av. República no meio que é atravessada pela ponte onde passa o Comboio que vai para a linha da Azambuja, no lado direito da Av. República antes da ponte era o mercado Geral de Gados, hoje é onde está a Feira Popular, no outro lado da Feira Popular fica a Av. 5 de Outubro.O mercado Geral de Gado tinha acomodações para 1000 bois - 2000 ovelhas, carneiros e cabras - 500 porcos e 200 cavalos.







































publicado por Fernando Ramos
http://marocas.blogs.sapo.pt/70222.html

 

29.3.10

TREM MISTÉRIO






Mais um combóio-fantasma, com visual de castelo medieval, em cuja fachada pontuavam bonecos com uma iluminação sinistra, para os tornar supostamente assustadores. Para isso contavam com a preciosa ajuda do barulho tétrico e violento que o pequeno trem fazia ao saír e penetrar nas trevas chocando directamente com as suas enormes portas de ferro azul-vivo que latejavam ruidosamente à sua passagem. Lá dentro, algumas artimanhas visuais, com caveiras e esqueletos mal iluminados, tentavam sem sucesso aterrorizar os divertidos viajantes, que, sendo namorados, aproveitavam para trocar carícias no escuro…

Publicado por Gimba
http://gimba.blogs.sapo.pt/7947.html

28.3.10

BRUXA ELECTRICA

Consonante com a mística criada na feira pelos comboios fantasma, que levavam os corajosos em viagens ao além, existiam em discretos locais da feira, cartomantes, bruxos e a máquina de sinas.
As máquina de sinas foi popular em balanças, em rifas, mas era na feira popular que estava a mais bela e enigmática: Uma bruxa electrica e mecanizada conferia por alguns instantes a sua magia. Luzes vermelhas acendiam-se e as suas mãos ondulavam até ao instante em que a máquina dispensava um pequeno cartão onde constava a sina.

26.3.10

Fábrica de sonhos

Tradições e liberdade

Vai distante o ano de 1943, quando ao dia 10 de Junho foi inaugurada na zona da Palhavã, no centro de Lisboa, a Feira Popular. A Feira Popular é um recinto de diversões criado por iniciativa do extinto jornal “O Século” e do seu director, João Pereira da Rosa.

O objectivo era claro: ajudar o projecto social do jornal, a Colónia Balnear Infantil de “O Século”, que ainda hoje perdura com obra meritória, sobrevivendo ao próprio jornal que lhe deu o nome, e já desaparecido. Na noite de inauguração, a 10 de Junho de 1943, 90 mil
lisboetas acorreram ao recinto para comemorar a abertura do novo espaço. “À sua abertura, no Parque de Palhavã, acorreram dezenas de milhares de pessoas na ânsia de assistir a um espectáculo de extraordinário bom gosto, de animação e de colorido”, lia-se no jornal “O Século”, no dia seguinte. Eram tempos pouco animados em Portugal e no mundo. A Europa ardia nas chamas do nazismo e fascismo, enquanto por cá, Oliveira Salazar estava no auge do seu poder. A ânsia de diversão era muita, libertando-se nestes momentos, a tensão controladora que o regime obrigava.

A Feira era, enfim, um espaço de plena liberdade, em que todos se podiam divertir, podiam voar mais alto e sonhar com outras emoções.
Hoje, o sonho e a fantasia mantém-se, apesar de feirantes e promotores da feira não esconderem que o encanto já não é o mesmo. Daí a necessidade de reforma, já assumida pelos responsáveis municipais.

Emoções para todos

Aberta durante a Primavera e Verão, a Feira Popular é, ainda hoje, um ponto de encontro de gerações inteiras de lisboetas, embora o número de visitantes seja cada vez menos. Há seis anos, a Feira recebeu 1,4 milhões de pessoas, mas em 2002 o número desceu para cerca de 400 mil, com os feirantes a queixarem-se dos maus tempos do negócio.

Ainda assim, todos os anos, são milhares os lisboetas que ali se divertem em família, começando pelo jantar, nos vários restaurantes e “tascas” típicas existentes, e prolongando depois a noite pelas barraquinhas de tiros, pelos carrinhos de choque, roda-gigante, montanha russa e outros equipamentos. Ao longo dos anos passados, são poucos, seguramente, os que não se sentaram ao longo das mesas corridas dos restaurantes da feira, provando o frango na brasa ou a sardinha assada, com sala de alface, tomate e pimentos.

Depois, há imagens que nos marcam para sempre: a avó que segue, com o neto, de mão dada; as crianças traquinas com a cara lambuzada de algodão-doce, os olhares “aterrados” das mães ao ouvirem os gritos “histéricos” das filhas que dão a volta no looping da montanha russa.

Tradições que não se apagam, antes se renovam. Mas que fazem parte do património de todos...

Horários e preços

A Feira Popular está aberta durante toda a semana das 16h30 às 24h00 e durante o fim-de-semana e feriados entre as 14h00 e a 24h00.

As crianças até aos 10 anos de idade não pagam entrada.

Para os adultos o preço é de dois euros, embora a partir das 23h00, o preço desça para 1.25 euros. Há descontos para a terceira idade e portadores de cartão-jovem.

Todas as receitas de bilheteira revertem para a Fundação “O Século”, que tem como objectivo apoiar a infância desprotegida.



in
http://www.jf-nsfatima.pt/boletins/bol05/page12.asp

DRAGÃO


24.3.10

PANELAS

Grande barracão de rifas em série, onde várias utilidades domésticas expostas nas paredes eram sorteadas a vinte e cinco tostões a senha (12 cêntimos!). O sorteio, tipo “Casa da Sorte” era feito por homens em pé, em cima dos compridos balcões, que depois da “série” vendida giravam uma série de roletas numeradas, numa grande algazarra, de feira, com um altifalante fanhoso a atraír a clientela. O prémio mais cobiçado – e o que dava o nome à casa - era um sortido completo de panelas, atadas em pilha umas às outras num sólido monobloco, que os felizes ganhadores exibiam orgulhosos durante o resto da noite, feira fora.

Publicado por Gimba
ALGUNS DIVERTIMENTOS DA FEIRA POPULAR – CONTADOS ÀS CRIANÇAS E LEMBRADOS AO POVO
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PÉNALTI

Divertimento para pequenos e graúdos, que consistia em pontapear uma bola de futebol – bastante mais pesada que o normal – com o fito de a enfiar num buraco aberto no ventre de um “guarda-redes” de madeira, colocado na respectiva baliza – com rede e tudo – a cerca de cinco metros da marca. Prémio por golo, um penálti (copo, entenda-se), tinto ou branco.


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PIM-PAM-PUM

Grande atracção para toda a família, constava de uma série de pequenas bolas moles, feitas com “desperdício” misturado com pedrinhas e forradas com peúga, que depois de arremessadas deveriam acertar nuns bonecos e bonecas risonhos e indescritíveis, do tamanho de um adulto, animados mecanicamente por forma a escaparem à pontaria dos visitantes. A grande distância a que se encontravam do balcão dificultava - e de que maneira - o arremesso certeiro. Por vezes formavam-se multidões, curiosas com o alarido de alguns valentões, que desesperados por não acertarem no alvo, atiravam furiosamente as bolas, que embatiam com estrondo na parede do fundo, atraindo novos candidatos. Prémio por bola no objectivo – um cálice de Porto.

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AS ARGOLAS

Atracção exclusiva para copofónicos: A dois ou três metros do balcão, uma mesa repleta de garrafas muito juntas em magote, todas de bebidas alcoólicas castiças - do Ponche ao Licor Beirão; do Triplice Âncora ao Abafado - esperava a pontaria dos candidatos, que tentavam acertar com pequenas argolas de madeira nos seus gargalos, coisa que eu, em trinta e cinco anos de visitas nunca consegui - nem vi niguém conseguir. Contudo, o prémio pela façanha seria levar a garrafa “para esvaziar com os amigos!”.

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BARCOS A MOTOR

“Barcos a Motor” – Réplicas fiéis do filme de Hitchcock “Strangers On A Train”, com protecção anti-choque, dada a exiguidade do pequeno lago quadrado onde em ambiente sub-iluminado circulavam em velocidade de caracol anfíbio. Supostamente criados para viajens amorosas, e dada a ausência do “túnel do amôr” imposta pelo espaço apertado e pelo regime (também apertado) de Salazar, limitavam-se a pequenas voltas em círculo, ao som deprimente e monótono dos seus motores a gasolina, envolvidos em tremendas nuvens de fumo de escape. Uma atracção, no mínimo tóxica, e grotesca…


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TIRINHOS



Barraca de tiro-ao-alvo ostentando um conjunto ferrugento de velhas espingardas de pressão de ar, com miras vesgas e canos ziguezagueantes. Ao terceiro ou quarto tiro, feitas as compensações da paralaxe, era possível acertar no alvo – uma chapa do tamanho de uma moeda pequena, colocada no centro de uma pipa de vinho – que quando atingida pelo chumbinho, fazia soar uma campainha estridente - sinal de que o atirador tinha direito a um cálice de ginginha!

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alguns divertimentos da Feira Popular - contados às crianças e ao Povo
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COMES E BEBES

“Comes e Bebes” – Mais que muitos, para todos os gostos e feitios, mas geralmente em casas de dois pisos com “terraço panorâmico”, que na melhor das hipóteses dava para dentro da Feira, e na pior, para a escura e desolada Av 5 de Outubro.
Atracção principal, sempre foram os frangos e as sardinhas assadas, cujo cheiro chegou a ser sentido em Cacilhas, em raras noites de vento de norte. Mas havia manjares para todos os gostos, começando nas entradas, que podiam ser tremoços, caracóis, chouriços, moelas, pipis, couratos, pica-paus, etc, para acabar nos pesos pesados da culinária portuguesa: das tripas à moda do Porto ao ensopado de borrego, da alheira de Mirandela à caldeirada, passando pelas papas de serrabulho, e pelas mais expessas feijoadas. Para acompanhar? Vinhos brancos e tintos de todas as regiões demarcadas e não-demarcadas, abafados, traçados, jeropigas, moscatéis, licores, aguardentes, novas e velhas, e - pasme-se – água engarrafada, e da torneira!
Cenas de pancadaria quase diárias, geralmente motivadas por trocas de palavras e ciumeiras alcoólicas, eram grande atractivo, trazendo grandes grupos de estudantes a estes monumentos da comida e da bebida.

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CAFÉ DOS PRETOS

Cópia fiel do café “Mazumbo do Kimbondo”, no bairro luandense do Sambizanga, tinha o condão de transportar imediatamente o visitante para o coração de África, apesar do cheiro a farturas da barraca contígua e do barulho dos vizinhos “Aviões”. Ao ar livre, e debaixo de sombrinhas de colmo – muito úteis à noite, para conter a cacimba de Lisboa – era possível saborear um enorme copo de “café de saco” a ferver, encaixado numa espécie de cahimbo de madeira, para não queimar as mãos dos brancos. O “Xiribi” que acompanhava o café, vinha directamente de Angola, e a sua fórmula duvidosa mas letal, sempre foi mantida em segredo…

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de:António Vaz

ai, que saudades da feira popular!

Já tenho saudades – e não são poucas – da velha Feira Popular, de Entrecampos, bastião de folia e enfardanço do mais tipico que Portugal já teve.
A Feira Popular já pertence ao passado. Àquele passado que não volta mesmo mais. Contemporânea dum certo Parque Mayer, da “Rádio Crime” (de Patilhas e Ventoínha), e de uma maneira de ser lisboeta que se apagou, varrida por doses maciças de globalização amorfa e estrangeirada - que vamos consentindo e adoptando em nome da modernidade - é mais uma daquelas riquezas que Lisboa perde no seu caminho rumo à descaracterização total que os políticos mais saloios prepotentemente nos impõem, e que as novas gerações herdam sem se dar conta do que é, ou foi, ser bom português, e neste caso particular - alfacinha.
E até há muita culpa das antigas gerações neste processo: nestes tempos de aparências falsas e ostentação obrigatória, parece que alguém se envergonhou de ser o que sempre foi, e se quis transformar no que não é - nem será nunca - com uma fachada nova e bacoca que só não engana quem conhece a antiga... É o que se pode chamar “O copo de três, disfarçado de Big Mac”.
Parece que há pudor em assumir que coisas tão sempre nossas, como é o caso do vinho – o tinto carrascão que nos levou às Indias – em doses curtas mas bem servidas, a transbordar sobre balcões de mármore manchado, não tem a mesma nobreza de uma coca-cola mé®dia em copo de plástico – muito mais “actual e civilizada”! E uma boa sandes de torresmos, para não dizer de couratos, parece não poder ombrear com carne semi-envenenada oriunda de pastos criados à conta do extermínio de florestas tropicais – coisa muito mais evoluida – com logotipo e tudo! E, claro: uma bagaceira genuina e caseira não consegue furar no apertado mercado do whisky da treta, e de preparados à base de vodka (com os mesmos sabores exóticos de preservativos usados!), com que os grandes caciques do internacional-alcoolismo nos querem intoxicar!
Porquê? Se calhar por não terem o famigerado logotipo, nem marca. E hoje em dia, ninguém quer nada com produtos não identificados - preferindo ostentar com pompa e ignorância o pechisbeque gráfico que os pequenos/grandes nomes ditam. Na realidade, é tão importante “ter marca”, que nos nossos dias até o lixo tem marca, senhores! Já não há cascas de banana nos passeios. E se houver, dizem “Banana de Colombia”! Hoje o lixo é composto por nomes perfeitamente identificados pelos monstros que os criaram, numa astuciosa manobra de marketing em que, para “maximizar as vendas e aumentar os lucros”, o produto ostenta o nome, desde a prateleira do supermercado até a trituradora da central de resíduos urbanos! O lixo é patrocinado! Pois! Por “Pepsi-colas”; por “Chiclets”, por “Mac Donald’s”, e por aí fora! O lixo, que agora é de luxo – o lixo que antes de o ser já o era, como a pescada e o calçado! Fantástico! Bestial!
Ao que parece, para colmatar a grande perda, a autarquia Lisboeta planeia brindar a cidade com um novo e moderníssimo parque de diversões nos arrabaldes longínquos da serra de Monsanto – um recinto com o pouco luso nome de “Play-qualquer coisa, tipo-center” onde não faltarão atracções de “última geração” (isto é: nada que custe menos de três ou quatro Euricos a viagem...), com a obrigatória e tão em voga “zona de restauração”, incolor, inodora e insípida, onde as castiças sardinhas serão substituídas por franganitos do Kentucky, e o tintol arroxeado em copos “de três” é definitivamente banido, e trocado por Big Coca-Colas e outros venenos em embalagens plásticas não recicláveis...
Que saudades da velha e genuina “Feira Popular”… Tão autêntica e tão castiça… Ao mesmo tempo integrada e deslocada. Chamariz de luzes e cheiros que atraia alfacinhas e forasteiros com a sua magia especial. Uma noite na Feira era preparada com grande antecedência. Era uma excitação, uma festa! Uma romaria de famílias inteiras preparada com esmero, o guarda-roupa cuidadosamente escolhido. Muitos amores nasceram nas vertigens dos seus carrocéis. Muitos casamentos se prometeram depois de sardinhadas regadas a vinho-tinto. Muitos cidadãos foram procriados durante as mil e uma noites que começavam em Entre-Campos. Muitas questões, muitos adultérios, muitas brigas, muitos divórcios dali nasceram. Mas também grandes amizades, grandes sociedades e grandes negócios foram selados com brindes nas mesas dos seus restaurantes! E tantas passagens de ano, tantos exames, tantas formaturas e doutoramentos ali foram festejados! Quantos aniversários, quantas bodas de ouro e prata ali foram celebrados? E, quantas traições, quantas perdas, quantas tristezas e quantas mágoas e misérias ali foram afogadas? A Feira era um mundo, e uma vez lá dentro, não existia mais nada cá fora! Como explicar aos novos o encanto de coisas findas e tão singelas como o “Pim-Pam-Pum”, o “Castelo-Fantasma”, ou o “Rola-Rola”? Como extrair orgulho do cheiro típico a frango e sardinha, que em dias de nortada primaveril chegava ao Marquês de Pombal? Tudo isso pertence ao passado: A macaca da “Selva” já não arranha no escuro (era um homem, que eu bem lhe via o morrão do cigarrito...). As gargalhadas do “Palácio dos Espelhos” acabaram. E o famoso Joselito deixou as acrobacias ao pé cochinho em cima da sua sempre brilhante Honda 125 verde-escura, atraindo multidões para o “Poço da Morte”! Toda a fumarada se evaporou. Fica um castiçal de divertimentos para a posteridade: As “Girafas”, O “Foguetão”, As “Cadeirinhas”, os “Tirinhos”, os “Aviões” - que voavam ao som do ar comprimido dos seus braços hidráulicos, e dos gritos dos “pilotos” - aviões muito cedo substituidos por uma minúscula, patética e cara montanha russa, como “atracção principal” da Feira...
E mais: restaurantes típicos; balcões de rifas; algodão doce; orquestras de macaquinhos mecânicos tocando música a troco de moedas; o célebre letreiro “Aperte a mão ao gigante de Moçambique por 5$00!”; os barquinhos a gasolina num pequeno e escuro lago quadrado, com os seus casais de namorados, qual “Luna Park” sem o túnel de Hitchcock. Tudo acompanhado pela fantástica banda sonora de vozes nasais a saír de altifalantes decrépitos: “Mais uma corrida, mais uma viagem!”; “Carros em movimento!”; “Suba! Suba! É o Rola-rola! É para borrar a cueca!”; “Tro-tro-tro-tr’olha as panelas, panelinhas e panelões – tudo a vinte e cinco tostões!”... Tudo isto é passado, tudo isto é fado... para beber e para esquecer...
E por falar em beber, havia uma faceta bastante alcoólica na Feira Popular. A começar pelo vendedor de bilhetes e a acabar nas zaragatas de bêbedos, resolvidas ao fim da noite por polícias de nariz encarnado e olho também brilhante. Na realidade, a Feira tresandava a álcool, odor encoberto pelo manto diáfano do frango, da sardinha, e dos “Definitivos”! A pontaria dos “Tirinhos” era recompensada com “ginginhas sem elas”! Quem enfiasse “As Argolas” no gargalo duma garrafa, levava a garrafa – aberta, de preferência! Quem marcasse um penálti directo ao buraco aberto no ventre dum guarda-redes de madeira, bebia o dito-cujo na hora! No “Café dos Pretos” não faltava o “chiribi”! A sangria corria a jorros nos “terraços panorâmicos”. E as caricas de “Sagres” faziam parte integrante de todo o piso da feira! Uma fartazana de copofonia!
Mas o grande monumento, a meca, o altar-mor de todas as grandes bebedeiras que Entre-Campos deu ao mundo, era sem dúvida a “Tasca da Joana” - uma colorida e típica adega ribatejana, cheirando a vinho - como todas as tabernas - construida à volta de uma vaca de loiça, em tamanho natural, de cujas mamas saía “O puro leite da uva, por conta do criador”. Era uma casa espaçosa, de paredes brancas e bem iluminadas, com adornos de telha “antiga-portuguesa”, e semi-vasos de parede, em barro avermelhado, com plantas de plástico, verdes. E por cima da vaca, o menú de iguarias, escritas a azul em pequenos azulejos brancos: “Pipís à Joana”; “Pregos à Joana”; “Moelas à Joana”; “Túbaros à Joana”, e muito mais… tudo “à Joana”!
Na casa, sem mesas, e sempre cheia até à rua, os empregados, suados e descompostos, gritavam uns para os outros atrás dos balcões corridos: “Mais três penáltis brancos!”; “Mais quatro penaltis tintos!”, enquanto viravam os seus próprios penáltis com o mesmo ritmo dos clientes, mas de uma vez só, para poupar tempo, num brusco inclinar de cabeça, regressando à posição inicial de sempre-em-pé, como se não fosse nada. O chão estava pejado de beatas, guardanapos de papel, cascas de tremoço, vinho entornado, vidro partido e lixo avulso - sinal de ocupação feroz e constante. O fandango brotava estridente e abundante dos “cornos sonoros”. A vozearia da clientela subia de volume com o correr da noite e do vinho, misturada com um altifalante propondo viagens alucinantes na vizinha “Selva”. O ruído de copos partidos com uma certa regularidade fazia parte da trilha sonora habitual na casa. E para animar ainda mais a clientela, de quando em quando os empregados agitavam com veemência o enorme chocalho da vaca, criando um clima sonoro de largada de toiros, ébrio e caótico, corroborado de vez em quando pela própria Joana, que no êxtase das rodopiantes e vertiginosas bebedeiras da clientela e do pessoal, mimava as redondezas com um valente mugido – acionado por um pedal que alguém, na “hora H”, pisava com astúcia - na certeza de que todos os foliões num raio de trinta metros não iriam querer perder a loucura que se vivia naquele cantinho da Feira!
Só que a vida tem destas coisas. Tudo o que é bom, acaba: Numa das minhas últimas visitas, em plena sexta-feira à noite, o cenário era desolador: A massa de gente que outrora entupia todas as ruas do recinto, todos os restaurantes, e todos os divertimentos, evaporou-se rumo a outras paragens - porventura mais actuais, enchendo porventura as suas monótonas e repetitivas “zonas de restauração” sem fumo, com embalagens plásticas não recicláveis, incolores inodoras e insípidas - num abandono que muito me entristeceu. E os divertimentos mais típicos e castiços - bem portugueses - eram os que estavam mais votados ao desprezo: a bola do “Penálti” lá estava, parada e quieta, esperando um pontapé certeiro. As trouxinhas do “Pim-Pam-Pum” jaziam imóveis no balcão garrido, sem ninguém que as arremessasse, o mesmo se passando com “As Argolas” e respectivas garrafas. As espingardas dos “Tirinhos”, abandonadas nos seus balcões desertos, também esperavam um atirador furtivo que fizesse abrir uma última garrafa de ginginha. Os salões de jogos, sempre apinhados de gente, que eram dos locais mais ruidosos do recinto, exibiam em silêncio mesas de matraquilhos vazias, saudosas dos seus característicos e barulhentos safanões. Mesas exclusivas da Feira Popular, sem a hegemonia dos eternos Benfica e Sporting. Mesas com bonecos do Porto, do Belenenses, do Vitória de Setúbal ou da Académica – do tempo em que havia pelo menos três negros em cada equipa, fielmente reproduzidos e misturados com os colegas “brancos”. Imóveis. Até a própria montanha russa, que normalmente tinha uma bicha onde pacientemente se aguardava pelo bilhete que dava acesso ás suas emoções fortes, ganhava ferrugem, com um ou outro casal que lá se aventurava na sua curta viagem…
A tasca da Joana lá estava, vazia também, com o balcão todo à vista, o chão impecável, e o chocalho mudo depois de muitas noites de bebedeiras, fandango, badaladas e mugidos. Já nem a vinho cheirava. Aliás, não cheirava a nada naquela artéria sempre fumegante, rainha do frango e da sardinha. Impressionante mesmo era o silêncio: Nem gritos, nem música, nem festa. A vizinha “Selva”, fechada e desmantelada já não tinha o seu altifalante. O “Rola-rola” já não rolava. As roletas das “Panelas” estavam imobilizadas em silêncio, no escuro do seu barracão, as portas fechadas. A Honda 125 verde-escura de Joselito já não rosnava nervosa no seu equilibrio precário, em cima de rolos à porta do “Poço da Morte”. E o fumo, que com a multidão dava um certo ar de metrópole oriental às ruas apertadas foi substituido por um vazio com uma nitidez definitivamente triste. Enfim: um corpo outrora com tanta vida e tanta história apresentava-se moribundo e ferido pelo passar impiedoso de novas eras e novos costumes, abandonado no seu leito de morte, como uma antiga dançarina, preterida e esquecida depois dos seu áureos anos de fama. Deixa saudades, a velha Feira Popular. Tudo isto é fado, tudo isto é passado. Paz à sua alma...

Publicado por Gimba
ALGUNS DIVERTIMENTOS DA FEIRA POPULAR – CONTADOS ÀS CRIANÇAS E LEMBRADOS AO POVO
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23.3.10

BALÕES

FOGUETÃO

“Foguetão” – Próprio para testar a força e a masculinidade a “touros enraivecidos”, era um pesado projéctil fusiforme, sobre carris numa curva em espiral ascendente. Com um valente empurrão, deslizava pela subida. Se atingisse o topo, o que era raro, fazia tocar um sino, que dava automáticamente direito a um copo de vinho. Impróprio para meninas.


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CARRINHOS DE CHOQUE






Concorrentes directos da “Pista de velocidade”, os carrinhos de choque, iguais a tantos outros, em tantas outras feiras, eram uma atracção obrigatória. Era raro haver um carro vazio, e quando havia era destramente pilotado por um dos rapazes da casa, sentado no capot em posição pouco ortodoxa.
A multidão que geralmente cercava a pista gerava grande confusão nos intervalos das “corridas”, tentando chegar às viaturas vagas, e não era raro haver atropelos no começo de “nova viagem”… Alguns foliões mais espertos faziam réplicas em barro das fichas plásticas sem as quais os carros não andam, e ficavam horas em pista fazendo sorrir os empregados, convencidos que havia muito dinheiro em caixa…


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LAGARTA





Publicado por:Jeff Graham
em: Roller Coaster Database




Publicado por:Jeff Graham
em: Roller Coaster Database

PÓNEIS

LOOPING

























Montanha Russa: Looping
Parque de Diversões: Feira Popular de Lisboa (Lisbon, Lisbon, Portugal)
Classification: Montanha Russa
Tipo: Aço - Sentada
Situação: Falecida
Operated from 1988 to 10/5/2003
Make / Modelo: Pinfari / Zyklon / ZL42
Dimensions: 139' 9" x 61'
Extensão: 1197' 6"
Altura: 36' 1"
Inversões: 1
Elements: 31' 10" tall Loop

Publicado por: Jeff Graham
em: RollerCoaster Database

A SELVA

“A Selva” – Combóio-fantasma em mono-carril, de visual naif e esverdeado, a justificar o nome, com muitas palmeiras de madeira, e zonas supostamente muito escuras e aterradoras dentro das quais os passageiros atravessavam “florestas” repletas de teias-de-aranha, animais perigosos, e coisas piores, como o célebre “arranhão da macaca”, que na verdade era feito por um empregado escondido na escuridão…

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LABIRINTO DOS ESPELHOS


Hilariante divertimento, sempre muito concorrido, graças ao seu enorme letreiro, com promessas de “Rir, Rir, Rir!”. O que até nem era preciso, porque no exterior, alguns altifalantes fanhosos atraíam os curiosos com as gargalhadas, captadas por microfones também fanhosos, dos ocupantes no seu interior. Mas o que é que tanto fazia rir os foliões? Uma colecção de espelhos disformes e ondulados que devolvia reflexos inacreditáveis e óbviamente cómicos a quem neles se mirava. Um “must” da Feira!

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ROLA-ROLA

“Rola-Rola” – Carrocel-redondel estonteante, em rampa, com módulos giratórios quadrados, fixos pelo centro, com “carrinhos” em forma de cogumelo presos nos vértices, que numa combinação de força centrífuga com plano inclinado, levavam os viajantes ao rubro, em rodopios por vezes violentos. Impróprio depois de jantares pesados…

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CADEIRINHAS












“Cadeirinhas” – Proibidas durante mais de uma década devido a um grave acidente com uma estrutura igual durante um S. João no Porto - que causou vítimas mortais - as cadeirinhas individuais estavam penduradas por correntes tipo baloiço, a uma enorme “roda de bicicleta” horizontal, meia dúzia de metros acima. Ao girar com velocidade, projectava-as no vazio provocando grande gritaria por parte dos seus ocupantes, pois os choques entre si eram frequentes, e uma vez por outra, as compridas correntes entrelaçavam-se causando grandes confusões. Super-castiço!



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CARROSSEL 8






Enorme e ruidoso carrocel em forma de oito, também chamado “sobe e desce”, misturava no seu tapete rolante bancos de jardim com uma série de animais, como zebras, cavalos ou peixes, sendo as girafas os mais altos, o que permitia aos viajantes socar umas bolas penduradas de cabos horizontais, que quando atingidas com violência, davam várias voltas aos ditos cabos, antes de novo soco certeiro. Um inevitável altifalante tipo megafone, compunha o barulhento ramalhete com uma conversa de chacha, sempre anunciando “mais uma volta!”.

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POLVO

Procuram-se fotografias desta diversão. Favor enviar para onda@netcabo.pt

22.3.10

EVOLUTION





Publicado por jaime silva
in http://www.flickr.com/photos/20792787@N00/68991211/in/set-603607/

ALGODÃO DOCE

RALLY


AVIÕES

LABIRINTO


infelizmente não encontrei imagens

KARTING




Autêntico autódromo todo em madeira com um traçado vertiginoso à volta dum “chouriço” central, onde os carros – bombásticos cabriolets americanos – com um pára-choques de lata a toda a volta, experimentavam a loucura dos 20 Km/h em rotações sucessivas, soltando enormes faíscas eléctricas ao som de mais um altifalante fanhoso, através do qual uma voz castiça e anasalada recomendava calma aos corredores. Para tornar o cenário mais parecido com uma autêntica pista de corridas, havia pintadas a toda a volta da pista, paisagens bucólicas com motivos campestres e inocentes. Perigo iminente!


Publicado por Gimba
http://gimba.blogs.sapo.pt/7947.html

8.3.10

Aperte a mão ao Gigante de Moçambique



Ainda se lembram do Gigante de Manjacaze?

Era o Gabriel Estevão Mondlane, media 2,45 metros de altura; infelizmente já morreu em 1990, com apenas 45 anos de idade.

Resolvi fazer uma pesquisa na Internet e encontrei várias referências, das quais destaco as seguintes:

1 - Vida do Gigante de Manjacaze em livro
O poeta e ficcionista português, Manuel da Silva Ramos, lançou em Maputo o livro "Viagem com um Branco no Bolso", um romance sobre a vida do "Gigante de Manjacaze", Grabiel Estevão Mondlane.
A obra apresenta um outro personagem, o anão português, Toninho de Arcozelo, que contracenava com o gigante nos círculos, feiras e praças públicas. No romance, com 574 páginas, o autor faz uma análise crítica à grande exploração a que o "Gigante de Manjacaze", com cerca de 2,5 metros, foi submetido no período colonial por empresários e promotores de espectáculo da época.
O nome do anão Toninho de Arcozelo, o então homem mais curto do mundo, com 75 cm de altura, associa-se a Gabriel Mondlane pelo facto de ambos aparecerem juntos muitas vezes, no mesmo palco, como forma de evidenciar a diferença entre ambos. O autor do livro nasceu a 13 de Setembro de 1947 na Covilhã, esteve exilado durante 17 anos na França, regressou a Portugal em 1997 e é tido como um escritor polémico e pessimista. (Notícias, 26/01/01)

2 - Gabriel Monjane, o Gigante de Manjacaze (Moçambique), foi notícia em Banguecoque em Agosto de 19892 -Gabriel Monjane, o
Os jornais e a televisão falaram dele.
A sua imagem junto da esposa Maria saiu nas páginas de todos os jornais, editados, na capital tailandesa.
Motivo da visita: A inauguração da abertura primeiro supermercado "Makro".
Gabriel estava designado como o homem mais alto no mundo no "Livro de Recordes Guinness".
Conhecíamos a história do Gabriel de quando começou a crescer, desmesuradamente, depois de ter dado uma queda, na sua aldeia, em Manjacaze, no sul de Moçambique.
Perante tal fenómeno de crescimento o Gabriel, embora o não apoquentem dores, foi internado num hospital de Lourenço Marques (Maputo) para ser observado pelos médicos.
De um jovem com altura normal, cresceu, cresceu e foi até à craveira de 2,42.
Os médicos (segundo os jornais de Moçambique) nunca explicaram o motivo da razão do Gabriel crescer descomunalmente e o rapaz foi enviado de volta às orígens.
O Gabriel, passava os dias sentado à sombra de um cajueiro, ao redor de sua casa, a sua altura desmedida não lhe dá a oportunidade para se juntar à sua família e trabalhar na "machamba" (pequena propriedade agrícola em Moçambique).
Passa a ser um Gabriel amargurado, a maldizer o crescimento e um pesadelo para a família alimentá-lo, que comia por quatro pessoas de média estatura.



Devido à publicidade dada ao caso de sua altura houve alguém se interessou em fazer dinheiro com o tamanho do Gabriel.
Começa, então o drama de um homem alto pelos anos de 1965!
Eu vivia na cidade da Beira na altura e conhecia, pelos jornais, a história do crescimento do Gabriel.
Dois homens, expeditos, residentes na capital de Manica e Sofala andavam por alí a ganhar a vida ao sabor das marés.
Todo os peixes que as ondas traziam à costa lhes servia
Um de nome pomposo o Dr. Razak, homem para todas ocasiões.
Pintor à espátula, advinho com consultório montado e viria a dar aso a confusões e divórcios, entre maridos e mulheres na Beira.
Entretanto foi-lhe apontado o "dedo" pelos jornalistas de tentar o aliciamento sexual, durante as consultas, às senhoras que o visitavam para que advinhasse qual era a "dama" que lhes estava a roubar o marido.
Outro de nome Prof. Belito, artista circense, ilusionista que andava por ali a montar a barraca nos arredores da Beira a mostrar, um truque, a cabeça de um preto em cima de uma mesa, que falava e comia bananas.
Lá ía governando a vida, muito mal e com os dez tostões do custo dos bilhetes de entrada.
Os dois deslocaram-se a Manjacaze e trazem o Gabriel para a Beira, encomendaram uma "fatiota" por encomenda; uns sapatos para uns pés de 50 centimetros.
Adquirem uma aparelhagem sonora de 100 watts cujo som, berrado, chegava a 10 quilómetros de distância.
O Gabriel é enfiado numa barraca feita de pano de toldo, em locais da Beira e arredores, há bichas de pessoas para verem de perto o Gabriel.
O negócio foi correndo para o Razak e o Belito.
Percorreu numa caixa de camião, aspirando o pó da picada, para outras terras de Moçambique.
Os moçambicanos e os "muzungos" (nome que os nativos davam aos portugueses de pele branca), depois de conhecer o Gabriel ao vivo não o pretendem ver mais.
O negócio começou a não ser rentável para os empresários Razak e o Belito.
Eles eram homens de imaginação e não se deram por vencidos.
Mandar o Gabriel de volta a Manjacaze, com a "fatiota", os sapatos e cotão no bolso em vez de umas notas em dinheiro, não era nada relevante para os seus protectores.
Se o Razak o Belito o pensaram melhor o fizeram!
Porque não ir mostrar o Gabriel de Manjacaze aos angolanos?
Claro que sim e a ideia era genial!
Fazer ver aos angolanos: Embora vocês tenham "pacaças" no mato, que Moçambique não tem, nós temos o homem mais alto do mundo e a dança do rabo de cadeira a "Marrabenta" !
Ajustam com a TAP, na Beira, o preço e o espaço da cadeira para transportar o Gabriel no "Super Constelation" para Luanda.
O Gigante de Manjacaze, aterra na capital angolana, metido num espaço apropriado para a sua medida.
Os jornais dão o "lamiré" e começa, como em Moçambique a ser exibido numa barraca.
O negócio foi correndo ao Razak, ao Belito e aos seus agentes.
Bem depois de ser visto e revisto e a figura do gigante deixar de ter interesse foi abandonada em Angola.
Passou por lá misérias, os jornais de Moçambique deram conta do estado de vida degradado do Gabriel em Angola e regressa a Moçambique à estaca zero.
Porém, o Gabriel, aquele rapaz humilde já habituado aos ambientes do público, de ser admirado pelas crianças dentro de uma "barraca", começou a sentir-se (apesar de grande) "pequeno" em Manjacaze.
Nova fase de vida principia para o Gabriel, mas agora, com alguma dignidade.
Um empresário, circense, contrata-o e leva-o para Portugal.
Corre Portugal de lés-a-lés, acomodado numa caravana (o próprio Gabriel me informou), onde dentro havia qualidade de vida e na hora que lhe estava destinada a exibir-se perante o público.
O "Gigante de Manjacaze" não foi explorado e amealhava uns "dinheiros".
Entre os caminhos "circenses" do Gabriel, uma mulher de 1,54 ( cuja altura dava-lhe pela cintura) de nome Maria, apaixonou-se por um homem de tamanha altura e 150 quilos de peso.
Maria começou acompanhar o marido, gigante, por todo Portugal e teve um filho.
Um rapaz "mulato" que teria uns 10 ou 11 anos de quando estiveram em Banguecoque e me mostraram a foto do rapaz.
Maria está ao lado de Gabriel, adquiriram uma cave nos arredores de Lisboa e fazem uma vida de um casal normal.
A altura do Gabriel Monjane chegou ao livro "dos recordes Guiness" e está lançado no mundo como o homem mais alto do globo.
Das picadas de Moçambique e de Angola, da tenda de lona o "Gigante de Manjacaze", começa a ser solicitado para publicidade e ser apresentado ao mundo.
Foi por este motivo que a empresa multinacional "Makro" convidou o Gabriel, o inglês Cris Greener, de 2,28 e outros homens, tailandeses (como anões junto do Gabriel e o Cris Green), para estarem, presentes, na abertura da primeira grande superfície na "Cidade dos Anjos".
Milhares de pessoas correram ao parque "Happy Land" para admirarem o "Gigante de Manjacaze", que embora nascido em Moçambique, dizia que era português!
Serviu de interprete entre o Gabriel e os jornalistas, a Esperança Rodrigues (ela e eu somos os portugueses mais antigos residentes na Tailândia), que traduzia as palavras do Gabriel em português para a língua tailandesa.
O Gabriel, meu amigo, partiu de Banguecoque, como um herói.
Passado uns poucos anos, uma delegação, moçambicana, que acompanhou o Primeiro Ministro Mário da Graça Machungo, em visita oficial à Tailândia, depois de lhes falar na história do Gabriel em Banguecoque, de volta recebi a triste notícia: " O Gabriel ao entrar na cave onde residia, escorregou, caiu e morreu".
Fiquei triste por eu tinha lidado de perto com o Gabriel em Banguecoque e tínhamos ficado amigos.

O GABRIEL EM BANGUECOQUE

No dia 1 de Agosto de 1989 era um dia igual a muitos outros anteriores.
Saí de casa para a Embaixada de Portugal, às seis da manhã, comprei o jornal e fui lê-lo para uma esplanada, junto ao rio Chao Praiá, onde todas as manhãs se sentavam à minha mesa uns "amigos e amigas", cáusticos: o Zebreu, judeu com uma lapidaria de pedras preciosa; o Miko, canadiano e fotógrafo para uma agência de publicidade, a Porno estudante universitária de economia e a Plá, secretária do gerente da Sony (Thailand).
Não se discutia futebol, nem política mas "coisas" alegres e antes de começarmos um novo dia de trabalho.
Na primeira página do "Bangkok Post" estava inserida a foto do Gabriel Monjane e hospedado no "Montien Hotel", a uns dois quilómetros onde me quedava.
Não fazia a mínima ideia aonde o Gabriel parava se em Moçambique ou noutro país.
Ora eu conhecia a história, infeliz, do começo da sua carreira e da tragédia que tinha sido envolvido.
Tinham passado (mais ou menos) 11 anos que lhe tinha perdido o rasto de sua vida.
Às dez da manhã dei uma "saltada" ao "Hotel Montien" e oferecer-lhe os meus préstimos em Banguecoque.
Da recepção do hotel telefonei para o quarto (cinco estrelas) e fui atendido pela D. Maria, sua esposa.
Fomos breves na apresentação e subi no elevador.
Naquela manhã eu era para o Gabriel o seu anjo da guarda e comer um pequeno-almoço decente e não as torradas, com manteiga, marmelada e o sumo de laranja.
O Gabriel desejava um bom prato de sopa de arroz com uns pedaços de carne e nunca as comidas "hoteleiras" que lhe tinham levado ao quarto.
A D. Maria e o Gabriel não falavam, palavra que fosse, da língua inglesa e quando pediam, aos criados, sopa de arroz em português, sorriam-se e voltavam-lhe as costas.
Os pequenos-almoços do Gabriel desde logo ficaram resolvidos e não tardou um criado entrar no quarto puxando um "carrinho" com uma terrina de sopa, bem cheirosa, para um pequeno almoço decente e digno para um homem de 2,42 (dois metros e 42 centímetros).
Todos os dias, ao fim da tarde, durante a permanência do "Gigante de Manjacaze" em Banguecoque estava junto a ele. Sentava-se num banco especial, no "lobby" do hotel, junto ao cartaz que anunciava os eventos de sábado e domingo.
O "lobby" do hotel passou a ser um centro de romaria.
Os jornais, em língua inglesa e tailandesa, tinham dado cariz à presença do Gabriel em Banguecoque e todos querem apreciar a sua altura e tirar foto com ele.
No princípio de uma noite teve duas visitas, especiais, de duas princesas reais: Soamsawali e filha Bajrakitiyabha que lhe foram fazer uma visita, particular, ao "Montien Hotel" cumprimentaram-no e tiraram fotos juntos.
Ofereci uma "boleia", no meu Volvo 244, já um carro bem "coçado", ao Gabriel para lhe mostrar Banguecoque à noite, as luzes de neon e todo aquele movimento nocturno.
O carro era espaçoso e estudei a melhor forma de o transportar.
Retirei-lhe o assento da frente, o Gabriel sentou-se no banco de trás, dobrou os joelhos e apreciou Banguecoque e não só atravessei a grande ponte, Rei Rama IX, e olhou a cidade lá do alto.
Ao Gabriel, meu amigo, desejamos que esteja no céu, porque um homem simples e bom, igual a ele não tem lugar no purgatório, nem no inferno.
O Inferno já o tinha experimentado na vida terrena.
"Kanimambo" Gabriel Monjane

Vide foto colorida, anexa, do Gabriel com a mulher do autor deste artigo e a sua filha.

José Martins - 17 de Maio de 2007

Retirado, com a devida vénia, do "Blogspot" AQUI TAILÂNDIA

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O gigante e o anão em 1970, junto do caixão de Salazar.


3 - O Saudoso Tempo do Fascismo
Publicado por Miguel Cardina 7-02-2007
Se por outra razão não fosse, O Saudoso Tempo do Fascismo, de Hélder Costa, valeria pela capa: uma foto do gigante de Manjacaze , Gabriel Mondlane e o anão de Arcozelo – respectivamente, o homem mais alto e o mais baixo do mundo, segundo certas edições do Guiness Book of Records – no velório de Salazar. Lado a lado, em pose tensa e respeitosa, estes filhos que a nação passeou como aberrações, vêm dar o último adeus ao ditador. Por detrás da luz central – a vela acesa de um círio – descobrem-se, perfiladas, as forças (ainda) vivas: um chapéu da polícia militar, um lenço da Mocidade Portuguesa, os botões reluzentes de uma farda composta.
O livro é, obviamente, mais do que o seu delicioso embrulho. Escrito naquele tom descontraído de quem domina a velha arte de contar histórias, O Saudoso Tempo do Fascismo é uma colectânea de relatos situados na fronteira entre o memorialístico, o pedagógico e o humorístico. Recortes do tempo que falam dos bailes e do «arame farpado», da emancipação das mulheres, das críticas à praxe coimbrã, das arrogâncias do poder e do seu escarnecimento, das experiências teatrais, da contestação à guerra colonial, das peripécias que rodearam um inevitável «salto» para Paris. Histórias contadas com uma deliciosa dose de humor.


em
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2008/03/ainda-se-lembra.html

Feirantes obrigados a mudar de vida.

Encerramento foi há 4 anos

Conceição trocou as acrobacias do «Poço da Morte» pelos estudos, José Marques exportou a «Casa Maldita» e Júlia deixou o restaurante e vende peixe, mas todos estes antigos feirantes ainda sonham juntar-se numa nova Feira Popular, mesmo fora da capital.

Desde 1961 em Entrecampos, a Feira Popular acabou por encerrar a 05 de Outubro de 2003, pondo fim a décadas de convivência entre os cerca de 200 feirantes, que fizeram dali o seu modo de vida, e à fantasia de milhares de pessoas que ali se divertiam.

Com o fecho do recinto, os feirantes foram obrigados a mudar de vida, mas ainda têm esperança de começar uma nova aventura num parque de diversões mais adaptado ao mercado actual, que atraia novos públicos.

Foi com muita «tristeza» e «saudade» que António Luís, dono de vários divertimentos na Feira Popular, entre os quais a montanha-russa, viu encerrar o parque, que «durante 40 anos foi o único equipamento de lazer na cidade», e «milhares» de pessoas irem para a rua.

António Luís, presidente da assembleia-geral da Associação da Feira Popular de Lisboa, contou à Lusa que vendeu «barato» alguns equipamentos e outros estão desmontados, guardados num armazém.

É com «muita mágoa» que os antigos feirantes vêem o estado em que se encontra actualmente o recinto: um espaço vazio cheio de entulho, onde resta apenas os escombros do Teatro Vasco Santana e de outros edifícios.

Do velhinho parque de diversões apenas resta, junto às bilheteiras, um cartaz onde se pode ler: «Ao adquirir o seu bilhete está a ajudar a obra social da Fundação o Século».

«Se a feira nunca evoluiu foi porque não houve investimento da autarquia. Hoje ainda podia estar a funcionar, mas a ganância dos terrenos fizeram com que fechasse», sublinhou António Luís, que teve de despedir mais de 40 funcionários.

António Luís neste momento não está a trabalhar. «Tinha um parque de diversões em Braga que também fechou recentemente», lamentou.

«A última vez que passei pela Feira Popular chorei ao ver tudo destruído», disse por seu turno à Lusa Júlia Diogo, que tinha um restaurante no recinto, onde esteve 25 anos, e agora trabalha numa peixaria no Lumiar.

A Feira Popular «era a nossa vida. Casei-me, nasceram os meus dois filhos, éramos uma família», declarou emocionada a antiga feirante, que ainda tem esperança de voltar a trabalhar num parque de diversões mais moderno, «mesmo que fosse na periferia de Lisboa».

http://www.floreseoutrasplantas.com/index.php/topic,8448.0/wap2.html

3.3.10

ISAURA


E surge a Isaura
De seu nome completo Isaura da Conceição Rodrigues, gabava-se com certo orgulho de ter nascido em Alcântara, na Meia Laranja, em berço pobre que depressa a sacudiu para o mundo sem dó nem piedade. Ela própria contava que tinha sido artista de circo, andando durante anos com as companhias por terras de Espanha até se decidir pela Feira Popular, onde montou barraca de pano e começou, com sucesso a fornecer refeições, em 1949.
Atraída pelo bulício do novo Areeiro, a Isaura instala-se no número 4 da Avenida Paris, em 1952, no mesmo edifício onde funciona actualmente, adaptando-se às condições do local, algumas bem curiosas, caso do fornecimento de refeições ao domicílio, transportadas por jovens empregados em marmitas de alumínio colocada numa vara sobre o ombro.
Tal costume prevaleceu até 1962 em vários bairros de Lisboa. Era o "almoço para fora", constava de sopa, um prato de peixe ou de carne, dois pães e uma peça de fruta e custava a módica quantia de quinze escudos.
Invulgarmente supersticiosa, Isaura da Conceição era muito apegada aos santos, especialmente ao Santo Onofre, que tinha como padroeiro do dinheiro, crente que tal devoção lhe trazia a prosperidade financeira que tanto desejava.
A presença que ainda hoje se verifica de uma imagem de Santo Onofre em lugar de honra do restaurante Isaura filia-se nesta devoção que os continuadores do restaurante não tiveram coragem de interromper, não fosse o Diabo tecê-las.

Oh! Hipólito